O que foi o início de tudo isso?
Quando foi que o destino começou a ditar as regras?
Talvez seja impossível alcançar a resposta agora,
nas profundezas do fluxo do tempo...
Mas certamente, que no passado,
nós amamos tanto, também odiamos muito,
nós ferimos os outros e ferimos a nós mesmos...
Mesmo que ainda corrêssemos como o vento,
enquanto nossa alegria ecoasse,
sob o céu azul do oceano.
Subimos correndo apressados.
Seria a última vez, os últimos comentários.
A piada foi feita, e rimos imaginando a cena.
Os risos ainda ecoam naquele lugar.
Foi palco de bons momentos.
Dias de chuva e muitos de sol.
Quando a infância estava a um passo de acabar.
Enquanto a amizade permeava, naquele lugar.
Cartas sobre a mesa.
Copos de bebida simples.
E muitos livros a folhear.
Naquele lugar.
As vezes o tempo enganava.
Outras, passava sem pedir licença.
De certa forma, nos divertíamos
Como crianças no balanço, naquele lugar
Sentimos a vida, cada gota dela.
Sem nos darmos conta.
Do cenário em que as histórias eram contadas.
Naquele lugar.
Sorrimos tanto, e amamos mais ainda.
E o que realmente importava
Era o momento.
Aquele momento singular, naquele lugar
Havia muito, e agora tão pouco.
Perdemos a noção do que aconteceu.
E quando percebemos, não mais voltávamos.
Naquele lugar...
Naquela tarde de domingo, minha visão se perdeu no horizonte da cidade.
Palavras ao vento, como sempre. Como afetam ou modificam memórias, não sei. Saber as vezes dói, e essa coleção de amarguras não está a venda, muito menos a mostra. Tentar adivinhar as vezes cansa. Pensar em todas as possibilidades e considerar as mais remotas, é de deixar louco. Mas sempre esteve por perto. Ruim com, pior sem. Ou não.
Lucidez absoluta torna tudo tão vago e banal. Tão cinza e monótono. É um conforto que desprezo. Aos que a tem, palmas e que se fechem as cortinas para dar lugar ao mundo novo sem formalidades, sem medos.
É mais do que isso. Sempre foi.
Continuamos com essa cegueira confortável.
Alimentamos o vazio de dias tristes e nos apegamos a fatos sem importância. Chamamos atenção, pedimos socorro sem falar, queremos tudo e nada ao mesmo tempo. Humanos, nada mais do que isso.
Ainda que os livros contem nossa história, a parte bela será retratada de maneira sem igual, e as mágoas serão deixadas para trás.
Que os erros aconteçam, e que nos mostrem o caminho de volta a vida.
Naquela tarde de domingo, era o céu quem me fazia companhia, enquanto o sol ia embora com mais um dia
Que o vento seque nossas lágrimas e o sol nos faça sorrir novamente quando houver adeus.
Como posso demonstrar sentimentos de outra vida
Vivo sonhos intermináveis que não são meus
O acordar já não remete a normalidade
Em transe absoluto, não tenho a chance de soltar estas amarras
Os olhos que vêem tudo com inocência
Não podem contar meu interesse profano
Sinto que mergulho em um mundo diferente
Outros anseios e temores vem a tona
Ora, qual a razão de tão forte interesse?
Qualidades, sorrisos, demais devaneios
Tantos quanto se pode contar
Tantos quanto posso resistir, e falho...
Momentos poucos que constroem a memória
Mas qual memória? Posso chamá-la de minha?
Porque tão cruel sina veio a me atormentar?
Devo então sucumbir a loucura?
Devo deixar de lado as formalidades?
Receio que a noite chegue
Não posso dormir, não quero sonhar
Sei que outra memória será apagada
E com outro sonho, esquecer quem sou novamente.
As vezes esqueço da sua mudança repentina
Desse seu jeito unico de variar, de ser
As vezes estranho, outras, me pergunto
Se erro ou cometo pecados, torno a escrever:
Não a controlo,
Pois é como o vento
Ora sinto, ora penso
Não por mal, por consenso
Por fim esqueço, me contento
Encaro a porta e adentro
No teu mundo violento
E mil rimas invento,
Sem pudor, ostento
A luxúria das palavras como monumento...
Não me apegarei a elas, sem ressentimentos
Com atitudes quero mostrar o fragmento,
Deste meu amor, por merecimento.
Meu coração ainda clama atento,
Por um pouco desse vento...
A vida sempre foi dura. Desde que me conheço por gente.
Caminhando contra o vento frio em muitas noites em claro, me vi muitas vezes sem direção. Sem rumo.
O que fazer quando não se tem ao que apegar ou alguém com quem compartilhar suas idéias?
Porque fazer parte de uma sociedade que nem percebe minha existência? Porque se doar tanto para tão poucos?
Todas as barreiras diante de mim se erguiam a medida que eu lutava por algum sentimento. Elas venciam em tamanho e grandeza. Eu não liguei mais para elas, não havia nada que me fizesse lutar por isso.
Cheguei a pensar na morte. A ideia de não existir parecia tentadora, e não havia nada ou ninguém que pudesse me impedir. Não havia nada ou ninguém próximo a mim...
Eu iria dar início a minha ideia quando ela apareceu...
Desde o primeiro momento que a vi, parecia um anjo.
Eu me apaixonara antes mesmo de me dar conta.
Um sentimento forte germinou dentro de mim, valia a pena viver. Valia a pena lutar. Ela deu sentido a minha vida.
Saiamos juntos no início. E depois deste dia mais outro, e outro...eu precisava ficar perto dela para me sentir forte.
Ela me deu um presente, que tomei como símbolo do nosso amor...uma caixinha azul, amarrada com um laço de seda...
Ela dava cores ao meu mundo cinza.
Quando havia algum problema ela me ajudava a superar. Aquelas barreiras que cresciam em minha vida pareciam minúsculas...eu era um gigante com ela.
A medida que o tempo passava, mais e mais eu me apegava a ela. Era o que eu tinha...ela é tudo para mim! Eu não posso ficar sem ela...
A ideia de não tê-la ao meu lado me deixava doente, desequilibrado...sem chão. O mundo em ruínas era algo com que eu me acostumara desde o início da vida...era algo que ela conseguiu mudar...eu não queria sentir a dor...
Conversávamos, brigávamos, e voltávamos a amar...
Houve uma discussão, meu coração se acelerava, eu precisava dela. Eu recorria ao seu presente, a caixinha azul com laço de seda...e chorei...
Mergulhei no imenso poço da loucura e do desejo...
Eu não consigo entender, será que mereço este castigo? Porque ela se foi?
Ela me deixou...e tudo voltou a ser como era...
Fui colocado em uma sala escura. As sombras novamente dançavam ao meu redor, festejando minha solidão...
O pequeno raio de sol que iluminou minha vida agora se foi, e com ele, minha esperança...
...
"Ouvi ele contar esta história diversas vezes. Começamos com o tratamento desde que chegou, mas o paciente não progrediu. Ele conta que é solitário, e não tiro sua razão. Desde que chegou aqui vivia trancado na solitária do hospital.
Ele não se lembra ou finge não conhecer os motivos que o trouxeram até aqui. Penso inclusive que não se dá conta do que fez e de onde está.
Qualquer pergunta e conversa direcionada a ele, o faz lembrar da pessoa que tanto amou.
Ele entende que sua amada morreu. Até reconhece que teve um pouco de culpa nisso, mas não recorda que a assassinou. Ela foi encontrada enterrada nos fundos da casa, dentro de uma caixa azul, amarrada por uma fita de seda, a maior que ele deve ter encontrado... servindo como um caixão.
Ele considera a morte de seu amor o motivo pelo qual não consegue falar com as outras pessoas e viver em sociedade.
Em parte, ele está correto.
Deixo aqui meu último registro em relação ao paciente. Não vejo razão para acreditar que ele irá se recuperar de seu estado mental, acrescentando que ele é perigoso para si mesmo e para os outros."
Não recordo o tempo que se passou desde as últimas folhas mortas caírem, mas já faz tempo.
Há muito eu havia deixado de aproveitar a humanidade que ainda restava em minha alma. O outono a levou com as folhas secas que estavam no solo, destruindo-a.
No inverno, minha alma congelava e as discussões eram constantes. "Você não é o mesmo", era o que mais se ouvia enquanto o vento frio passava pelas frestas da janela entreaberta.
A primavera mostrava que havia esperança. As flores que enchiam o jardim de vizinhos deixavam toda situação amena. Havia calma, e ao mesmo tempo caos.
Em tempos de verão, o sol costumava consertar todos os problemas com seus raios que me davam força. Mesmo sabendo que tudo poderia mudar na próxima estação, aqueles poucos dias de luz me tornavam outra pessoa.
E então aconteceu. Não a vi mais. Nem mesmo quando achei que ela iria voltar.
O perfume delicioso que estufava meu peito outrora, agora, era imperceptível.
Os anos passavam e a primavera não voltava, não acontecia.
Ainda assim, gosto do outono.
Não por ser apenas uma estação, mas um artifício de mudança tremenda de forma sutil.
Leva embora sentimentos e os renova, por mais doloroso que seja.
Molhe seus pés e lave sua alma.
A água como um portal para o outro mundo.
E te leva para longe. Longe do que você vive.
Longe dos seus dias de repetição.
E há o momento.
Aquele em que você mergulha sem saber se irá voltar.
E não há volta.
Saudades dos tempos de mar.
E dos amigos, dos seus sorrisos.
E do sol, quando ele brilhava enquanto brincávamos.
Deixávamos o tempo passar.
E não queríamos ir.
O adeus era dolorido.
Era um até logo.
E doía também.
Os rostos agora passam enquanto fecho os olhos.
Mais saudades e lágrimas que se misturam ao mar.
O toque no violão de uma música que marcou.
A música que toca com o palpitar do coração.
A que acende pelo seu corpo e te faz querer mais tempo.
Mais tempo como aquele em que éramos crianças.